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segunda-feira, 12 de julho de 2010

MULHERES DE ATITUDE

Já notaram que, com certa velocidade, as bandas com integrantes femininos, e também as formadas apenas por elas, vêm dominando cada vez mais a cena Heavy Metal mundial?
Mas isto não é tão recente como possam estar imaginando. Desde os primórdios da música, as mulheres vêm traçando seu caminho ao lado dos “bad boys” do Rock n Roll.
Vocês poderão Ter a oportunidade de conhecer a grande escalada delas, as “Vênus”, desde suas lutas trabalhistas, até o estrelato no Rock ‘n’ Roll.

UMA ESPIADINHA NA HISTÓRIA

Sente-se hoje, uma presença mais que significativa de mulheres no meio musical, tal como a presença das mesmas em meio sócio político e outros. Mas, sabemos que não foi do dia para a noite que esta invasão feminina ocorreu.

O princípio das lutas femininas para a Emancipação não tem data certa, pois, desde sempre, mulheres como Joana d’Arc e Cleópatra, não se deixavam sobrepujar por homens, e queria colocar seus pontos de vistas, mesmo que isso lhes tirasse a vida.

A luta por colocação na sociedade era, também, uma luta por justiça, pelo “ livre arbítrio “.

Na revolução francesa, em 1789, as mulheres tiveram grande importância, e sem ela, muito do que aconteceu poderia não Ter acontecido.

As transformações ocorridas na Revolução Industrial, na Segunda metade do século XVIII, trouxeram consigo uma série de reivindicações até então inexistentes. O trabalho feminino passou a ser absorvido pelas indústrias, como forma de baratear os salários, inserindo desde então a mulher no mundo da produção, com trabalho beirando ao escravo, com cargas horárias de até 17 horas diárias, submetidas a espancamentos e ameaças sexuais constantes, além de receber salários quase 60% menores que o dos homens.


Na Europa e Estados Unidos, manifestações operárias contrárias ao cotidiano lamentável e os confrontos com a polícia se tornavam cada vez mais freqüentes.

Em 1819, a Inglaterra aprovou a lei que reduzia para 12 horas a jornada de trabalho para mulheres e dos menores entre 9 e 16 anos, depois de, num enfrentamento dos trabalhadores com a polícia, esta atirou com canhões nos manifestantes. Foi a Inglaterra também o primeiro país a reconhecer legalmente o direito de organização dos trabalhadores, quando em 1824 o parlamento aprovou o direito de livre associação e os sindicatos se organizaram em todo o país .

Nesta época ocorreu o tão conhecido episódio das “ Incendiárias”, quando 129 tecelãs da fábrica de tecidos Cotton, em Nova Iorque, em protesto pelo direito a jornada de trabalho 10 horas na primeira greve norte-americana conduzida unicamente por mulheres, sentindo-se acuadas pelos policiais que violentamente as reprimiam, se refugiaram nas dependências da fábrica. No dia 8 de março de 1857, os patrões e a polícia trancaram a fábrica e atearam fogo, fazendo com que as tecelãs asfixiadas fossem carbonizadas.

Este fato foi levado em consideração na II Conferência Internacional de Mulheres, realizada em 1910, em Copenhague, Dinamarca, quando Clara Zetkin propôs que fosse criado o Dia Internacional da Mulher, usando o dia 8 de março, em homenagem às tecelãs de Nova Iorque.

Em 1911, mais de um milhão de mulheres se manifestaram na Europa, mas só em 1975 a ONU incluiu o dia 8 de março em seu calendário oficial de comemorações, e a data passa a ser marco da luta feminina pela defesa dos direitos humanos.

Durante a Primeira Grande Guerra e a Segunda Guerra Mundial, as mulheres empregaram um grande papel na sociedade, ocupando os lugares dos homens nas fábricas, enquanto estes ocupavam as linhas de frente. Mas esta situação foi passageira, e quando as guerras terminaram, as mulheres retomavam seus antigos postos e domínios.

Embora já tivessem conquistado bastante, ainda eram pouco significativas as vagas dadas às mulheres, e chegada a década de 60, a revolução feminina atinge outras áreas, e sem esquecer das desigualdades sociais, políticas e laborais, o alvo de luta agora é a diferença entre os sexos.

É chegada a revolução sexual, dominada pelas mulheres mais jovens, em sua maioria estudantes. Lutam pelo direito sobre o próprio corpo, adotando a pílula, queimando soutiens, prorrogando os casamentos e abrindo mão da maternidade. Assim poderiam Ter uma vida “fora de casa”, tomando conta dos próprios narizes.

Não mais sendo endeusadas apenas como as “Vênus” dos Artistas Plásticos, hoje as mulheres têm ocupado, entre outros, cargos administrativos, chegando a ocupar igualmente o campo de trabalho no Brasil.

Esta mudança de padrões não ocorreu apenas no interino sócio-político, mas também na música, campo que antes era dominado estritamente por homens. Paralelamente aos acontecimentos revolucionários, mulheres de garra colocaram “a boca no trombone” e também no microfone.

“HEAV”OLUÇÃO DA MULHER

Com tanta revolução, pouco se estranha de a mulher Ter conquistado também o meio mais machista e brutal da música, o Heavy Metal.



Brenda Lee




Elas começaram a se aventurar pela música: Aretha Franklin, Brenda Lee, Nancy Sinatra, Tina Turner, e também Janis Joplin, Suzi Quatro, entre outras dadas por rebeldes, foram umas das primeiras a arregaçar as mangas e.... cantar! Cantar e tocar. Como os homens faziam, como elas também poderiam!

Para todas elas, a vida foi um tanto quanto difícil, e uma das mulheres que mais abusou dela, com certeza, foi Janis Joplin. Janis que começou a carreira como cantora profissional em 61, no dia 31 de dezembro, ao as apresentar no Halfway House, em Beaumont, e em 67 lança o 1º LP com o Big Brother and the Holding Company, e antes mesmo de poder contemplar a fama, veio a óbito por intoxicação por morfina, no dia 4 de outubro de 70.

Outra que, embora tenha feito grandes mudanças, era dada ao excesso, foi Wendy Orleans Williams, vocalista do Plasmatics. Foi ela quem surgiu com o penteado moicano, que marcou a revolução do punk, e é incorporado no visual até os dias de hoje. Ela era o perfeito reflexo da sociedade americana. Atuou em filmes pornôs e era muito conhecida pelas performances explosivas nos palcos. Após sair do Plasmatics, lançou 3 álbuns solo, participou de alguns filmes (quem lembra de “Reformatório de Mulheres”?), e em 87 grava mais um álbum com sua antiga banda, Plasmatics, o “Maggots: The Album”. Cometeu suicídio no dia 7 de abril de 1998, dando um tiro em sua cabeça. “Ela não suportava mais viver em um mundo em decadência”.

The Go Go's


Mas, as moçoilas não eram todas extremamente destrutivas como as duas acima. Temos grandes exemplos de profissionalismo.

Ótimo exemplo é Suzi Quatro, que aos 14 anos já tocava piano em bandas de rock, excursionou com a banda Pleasure Seekers pelo Vietnã, e acabou conhecendo e se tornando amiga de Alice Cooper. Depois de muitas voltas, em 73 estoura com seu primeiro hit “Can the Can”.

Outra boa garota é Debbie Harry, vocalista do Blondie (74) que até os dias de hoje é lembrada como a rainha da New Wave. Estilo no qual podemos encontrar também a excêntrica Nina Hagen, com seu Punk New Wave, que desde seu 17 anos fez parte de bandas, e em 85 aportou em terrinhas brasileiras para se apresentar na primeira edição do Rock in Rio.

E, claro, não poderia deixar de citar aquela que pode ser dita, metaforicamente, a titia que criou a Debbie, mesmo não tendo grau algum de parentesco: Patty Smith. Poucos sabem, mas foi ela uma das grandes responsáveis pelo respeito que hoje a mulher tem no rock. Um dos principais ícones da New Wave nova-iorquina, conhecida como a Blank Generation (geração oca) - onda precursora do que depois viria ser o punk rock propriamente dito. O álbum Horses, lançado em 75 -o debut foi com o compacto independente “Piss Factory”- foi aclamado pela crítica ao apresentar canções poéticas, anárquicas entre experimentalismo e rock básico.

Outros nomes que podem ser citados são: Vice Squad, com Beki Bondage, banda vinda dos restos de “The Contingent” e de “TV Braker”, Chrissie Hynde, dos Pretenders (1ª demo em 78), e Heart, banda formada pelas maninhas Ann & Nancy Wilson, que atravessou décadas, desde os anos 80 até lançarem o que seria o último álbum em meados de 90 - as irmãs integraram outra banda após o término do Heart, o Lovemongers.


Cyndi Lauper

Temos também as Runaways. Garotinhas iradas que formaram a banda em meados dos anos 70, que deram de “10 a 0” nos grandalhões do rock e fizeram músicas de excelentíssima qualidade, e infelizmente vieram ao fim no início dos anos 80. Mas, tendo o tempo livre, duas ótimas guitarristas da banda seguiram carreira solo e até hoje estão na ativa: Lita Ford e Joan Jett.
Depois delas, Kim Fowley fez surgir outra banda, “the Orchids”, mas esta não emplacou como as queridinhas de Kim, as Runaways.

Na mesma época, em 78, Girlschool, banda formada por ex-integrantes da Painted Lady e futuras integrantes das bandas GoGo’s, Avanti, Framed, She, Rock Goddess (com primeira formação de 77, mas lançando um álbum apenas em 83) lança seu 1º single, e em 80, seu primeiro álbum, o “Demolition”.

Em 79, surge Pat Benatar, com seu inesquecível “In The Hit of the Night”. Pat foi nomeada 9 vezes para o “Grammy Award”, e saiu de lá premiada em 4 deles. Ela foi a responsável pela música “Invensible”, da trilha sonora do filme “A Lenda de Billie Jean”, em 85.

No decorrer dos anos 80, a música toma vários rumos diferentes, e há uma explosão tanto de bandas seguindo uma linha Hard Rock, quanto bandas mais puxadas ao Heavy Metal. Aparecem bandas como Betsy Bitch, Vixen, Phantom Blue, Hellion (com a bruxa Ann Boleyn nos vocais, em meio a covers de Led Zeppelin e Judas Priest), Chastain ( com Leather), Lee Aaron, Lorraine Lewis com o Femme Fatale, TC Kross, Lisa Dominique , Doro Pesch (saída do Warlock), entre outras. Algumas destas já existiam, mas só nesta época realmente começam a aparecer ( e algumas delas levaram bem a sério o quesito “aparecer”) e Ter um pouco mais de fama.

Ainda nos anos 80, as meninotas vêem estourar nas paradas Cyndy Lauper, vinda de uma banda chamada “Blue Angel”, com seus protestos feministas estampados de formas bem humoradas e criativas, com reprovações ao salto alto, fazendo os shows descalça entre outras peculiaridades.

As mesmas garotas têm também para se espelharem, a partir de 87, Sinéad O’Connor. Esta, como Cyndi, não queria ser um símbolo sexual, um joguete nas mãos dos homens, e de alguma forma, muda a imagem das mulheres, não sendo “bonitinha” ou vulgar. Com os cabelos raspados (por completo, e não “cá e lá” como Cyndi), roupas desleixadas, como jeans e camisa de flanela (visual adotado pelos grunges após um tempo), Sinéad queria ser encarada como uma artista séria, mas atingiu a decadência ao não segurar a língua quietinha na boca nos horários certos, e nem as mãos, pois não foi todo mundo que aprovou-a quando esta rasgou uma foto do Papa.

Quando é chegada a década de 90, um novo movimento aparece, meio que levado para o lado dos conceitos de O`Connor. Uma banda chama muita a atenção das garotas, o L7, formada apenas por mulheres. Seria o que pode-se chamar de “as Runaways dos anos 90”. A temática da banda envolve tanto as garotas do mundo todo que, onde menos se esperava, surgia uma nova seguidora, querendo ser como Donita Sparks, ou quaisquer outras integrantes da banda. Nesta época, vemos nascer o movimento das Riot Grrrls, que repugnavam o tratamento “sexual” que recebiam dos homens, tinham uma angústia latente, e explodiam em forma de música e atitudes. Deixando claro que, o movimento das Grrrls não é vinculado a música, mas faz benefício dela. A melhor e mais simples definição de Riot Grrrl é “garota com atitude”.

Siouxsie

Este movimento segue até hoje, tornando-se parte da consciência “Universal” das “Teenagers”.
Bandas como Elastica, Bikini Kill, Babes In Toyland, 7 Year Bitch, The Breeders, Veruca Salt, Bratmobile, Human Waste Project, Letters To Cleo, Lunachicks, No Doubt, Sleater-Kinney, entre outras, fazem a cabeça e são trilha sonora das atitudes de muitas adolescentes. No Brasil, o grande nome talvez seja Dominatrix.

Duas das bandas femininas dos anos 90 que devem Ter um pouquinho de atenção são Kittie, fazendo um Death/Glam Rock, muito interessante, e Drain STH, com um grunge/Heavy Metal.

Outras moças com letras cheias de conteúdo e sensibilidade aparecem mais nos anos 90. Elas são: Fionna Apple, Tori Amos, Portishhead, Björk, Jewel, Alanis Morrissete, Pj Harvey entre outras, com uma influência absurda de Patti Smith.

E foi nesta mesma época, enquanto algumas mulheres se revoltavam, que outras estavam ligadas um pouco mais ao mundo depressivo. Depois de terem exemplos como Siouxsie e Cocteau Twins conseguido um breve espaço no gótico tradicional dos anos 80 e sendo confundidas como cantoras de New Wave, as mulheres invadem o Gothic e o Doom Metal com suas adoraváveis vozes de anjos, ou não tão doces assim.

Uma das primeiras bandas que incorporou o vocal feminino angelical em suas lamúrias guturais, foi o Paradise Lost. Depois surgiram Theatre of Tragedy, The Gathering, 3rd And the Mortal, Dreams of Sanity, Lacuna Coil, The Sins of Thy Beloved, Tristania, Trail of Tears, entre muitas outras.

Hoje, é mais do que fácil encontrarmos “Sarah Brightman’s” cantando ao lado de “Dani Filth’s”, e cantoras líricas como Sharon Del Adel (Withim Temptation), ou Astrid Van Der Veen (mais conhecida pelo Ambeom) na flor de sua adolescência, fazendo todo o vocal da banda com muito profissionalismo.

Esta última “levada” de mulheres no meio Heavy, parece ser a mais extensa e a que cresce com mais rapidez. Felizmente, encontramos, em sua maioria, excelentes bandas, com um trabalho musical soberbo. O Gothic Metal e o Metal Sinfônico (com a rainha Lana Lane) estão fazendo parte da “nata” do Metal, pois possuem realmente grande potencial, provando ao mundo que, o perfeccionismo da mulher é bem vindo em tudo.

Após esta breve respectiva da atividade da mulher, resta alguma dúvida sobre a importância delas?
Qual seria então a maior glória senão poder influenciar outras pessoas por meio de suas idéias?
Qual seria maior vitória que seus desejos estarem fazendo parte do cotidiano de outras mulheres? E qual os melhores meios de expressar os sentimentos e idéias senão por literatura e música?



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