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quinta-feira, 29 de julho de 2010

O ‘lado sombrio’ da Liberdade

Matéria gentilmente cedida por Luci Júdice Yizima


Que São Paulo tem de tudo e para todos os gostos não é nenhuma novidade. Afinal, a maior metrópole da América do Sul não é apenas o coração financeiro do País. É também a Capital do trabalho, da cultura, da culinária, do lazer... No entanto, o que poucas pessoas imaginam é que existe um “tour além dos túmulos”, com visitas a pontos turísticos, no mínimo, inusitados.

Organizado pela agência Graffit Turismo, o “Circuitos de outro mundo: São Paulo além dos túmulos” tem como objetivo mostrar a riqueza histórica e cultural da metrópole sob um ponto de vista assustador. O roteiro inclui cemitérios, casarões e prédios mal assombrados ou que foram palcos de tragédias na cidade.



Segundo o criador do circuito, Carlos Silvério, “precisávamos fazer algo novo, inusitado, diferente, pois o mercado de turismo convencional em São Paulo estava saturado. Então, resolvi fazer o roteiro ‘São Paulo Além dos Túmulos’ e apresentei o projeto à SPturismo, que a princípio ficaram receosos. Mas acabaram aceitando e estamos operando desde 1999”, explica Silvério.

“Um dos roteiros passa pelo bairro da Liberdade, mais precisamente no Beco dos Aflitos – travessa da Rua dos Estudantes, altura do número 52, onde está localizada a Igreja dos Aflitos, antigo cemitério popular. “A região permeia uma série de histórias sobre habitantes do antigo cemitério que aparecem em apartamentos e escritórios geralmente à noite”, esclarece Carlos Silvério.

Entrevistado, o padre João Aparecido Ferreira, 83 anos de idade, há 18 anos que celebra a missa na Capela dos Aflitos é o mesmo pároco da Capela das Almas dos Enforcados. Para o Pe. João, Aflitos e Enforcados são duas capelas que estão ligadas por sua história. Ele comenta que “há dez anos fatos ocultos rondavam as duas capelas. Uns dizem que ouvem vozes, outros vultos. Mas não acredito que os mortos venham assombrar os vivos” destaca o Padre.


Uma moradora do bairro, que não quis se identificar, explica que certa vez estava pondo sua filha de sete anos para dormir, quando sua filha subitamente virou para ela e disse: “mãe, manda essa mulher ir embora?” A mãe aterrorizada, olhou para a porta e não havia ninguém. “Particularmente eu gelei. Então, eu pedi para que minha filha rezasse para o seu anjo da guarda. E não fico mais em casa sozinha” comenta a moradora.

Maria Chagas, funcionária de uma empresa da região, diz “quando fico trabalhando até mais tarde ouço vozes, passos... Porém todos da empresa já foram embora. Mas não alimento a idéia de que tem assombração em nosso escritório, pois preciso trabalhar. Espero que os fantasmas entendam, não dou atenção para eles, porque preciso colocar meu trabalho em dia” enfatiza Maria com o tom risonho.


A Rua dos Estudantes reunia forca e cemitério

O bairro asiático da cidade nem sempre foi tão festivo e turístico como hoje. Uma de suas principais ruas, a dos Estudantes, hoje cheio de restaurantes e lojas típicas orientais, foi uma região popular conhecida pela aflição e pela amargura. Condenados à morte eram executados no Largo da Forca, atual Praça da Liberdade, e depois enterrados no Cemitério dos Aflitos, o primeiro cemitério público da cidade, fundado em 1775. Ainda hoje a capela mantém seu tamanho original. É tão pequena que os fiéis sentam-se nos poucos bancos nas laterais do altar. Porque a frente já está quase na própria rua.

“As pessoas procuram nosso roteiro por curiosidade, querem ter conhecimento das tragédias e histórias que assombram a cidade. Nosso público é variado e de todas as idades” conta Carlos Silvério.

O passeio, que tem quatro horas de duração, acontece uma vez por mês. O ponto de partida é do Largo do Arouche, sempre aos domingos. É necessário reservar vaga com antecedência pelo telefone 11/ 5549-9569.




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